Rio de Janeiro, junho de 2024 – O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), mais conhecido como Lúpus, é uma doença autoimune e crônica, com maior incidência entre as mulheres, que pode atingir diversos órgãos e sistemas do corpo, incluindo os rins, causando a chamada Nefrite Lúpica. Não há uma cura específica para o LES, mas atualmente, com o tratamento correto, pode-se atingir o controle adequado da doença. Reumatologistas e nefrologistas destacam a importância do acompanhamento médico, bem como da não interrupção do tratamento para boa resposta e prevenção de danos graves.
“O Lúpus é uma doença autoimune. Nos pacientes com Lúpus, o sistema imune começa a produzir anticorpos e alguns mediadores inflamatórios que atacam o próprio organismo. Um dos órgãos que podem ser acometidos são os rins, que chamamos de Nefrite Lúpica. Neste caso, os pacientes apresentam anticorpos e substâncias inflamatórias que atacam as células dos rins, responsáveis por filtrar o sangue e formar a urina”, explica o Dr. Edgard Reis, CRM-SP 114511, professor Adjunto da Disciplina de Reumatologia da Escola Paulista de Medicina /Universidade Federal de São Paulo, Coordenador da Comissão de Lúpus da Sociedade Brasileira de Reumatologia (2020-2024) e membro do Grupo Latino-Americano para Estudo do Lúpus (Gladel).
O médico afirma que a Nefrite Lúpica causa um grande impacto na vida da pessoa com o Lúpus, pois a inflamação nos rins pode provocar inchaço nos pés e no corpo inteiro, aumentar a pressão arterial e a perda de proteína pela urina, além de outras possíveis complicações mais graves. “Pode gerar, ainda, ao longo do tempo, uma perda do funcionamento dos rins, o que chamamos de insuficiência renal crônica”, acrescenta Dr. Edgard Reis.
A Nefrite Lúpica pode acometer cerca de 40% a 50% das pessoas com LES. Por isso, é fundamental o acompanhamento de um profissional de saúde, bem como o diagnóstico precoce. “Desta forma, podemos evitar um dano maior”, completa o reumatologista.
O especialista também chama atenção para a jornada dos pacientes. Segundo ele, além da questão do acesso ao tratamento, é necessário pensar no impacto da doença para as pessoas que enfrentam o LES e a Nefrite Lúpica, principalmente, pois essa última pode ser silenciosa e sem sintomas significativos em seu estágio inicial.
“Muitas vezes, o paciente já chega na primeira consulta com piora ou exacerbação da doença nos rins”. E acrescenta que há uma diferença de percepção entre as necessidades dos pacientes e o protocolo de tratamento sugerido pelo profissional de saúde. “Às vezes, nós médicos estamos muito preocupados com o exame de urina e a perda de proteína, o que é importante. O paciente, por outro lado, também se preocupa com o cansaço ou uma nova lesão de pele que apareceu. Então, acredito que a maneira de equalizar seja ouvir cada vez mais o paciente e suas demandas, compartilhar decisões e trazer o paciente para o centro do seu tratamento”, finaliza Dr. Edgard Reis.
Os impactos da Nefrite Lúpica
Os rins são órgãos fundamentais para o controle da pressão sanguínea, regular a formação do sangue e dos ossos, e equilibrar o balanço químico e de líquidos do organismo. A partir do momento que o órgão não funciona mais da forma correta, o paciente pode se sentir mais cansado e com menos energia, estar com o apetite reduzido, dificuldade para dormir, estar com os pés e tornozelos inchados e apresentar inchaço ao redor dos olhos, especialmente pela manhã.
“Se você tem os rins comprometidos, eles vão perdendo a habilidade de ajustar o excesso ou falta de substâncias também”, comenta o nefrologista da Escola Paulista de Medicina/ Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Dr. Gabriel Montezuma.
A Nefrite Lúpica é detectada por exames laboratoriais, como os níveis de creatinina no sangue e proteína na urina. Os sintomas do LES são diversos e variam em intensidade de acordo com a fase de atividade ou remissão da doença. “Muitas vezes, aquela doença já está presente há meses, ou até mesmo anos. Algumas complicações, como a parada completa da função dos rins, com necessidade de hemodiálise, acontecem em 10% a 20% dos pacientes que têm Nefrite Lúpica não tratadas adequadamente”, detalha Dr. Montezuma.
O tratamento da Nefrite Lúpica é feito com imunossupressores e corticoide, que vão ajudar a reduzir o risco da inflamação renal. Uma das principais metas da terapia é atingir remissão rápida da doença ativa. Além disso, a terapia com imunobiológicos pode reduzir o risco do paciente com Nefrite Lúpica desenvolver doença renal crônica terminal, consequentemente diminuindo as chances de óbito por conta da doença.
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), responsável pela regulamentação do sistema privado de saúde, está com a Consulta Pública nº 132 – UAT 120 aberta para obter opiniões de pacientes, familiares, profissionais de saúde e sociedade em geral sobre a incorporação de um tratamento para a Nefrite Lúpica na lista de cobertura obrigatória dos planos de saúde. Contribuir é fundamental, pois significa ampliar o acesso ao tratamento do Lúpus com acometimento renal. Para participar, basta clicar neste link.
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MATHEUS DUARTE DE SOUZA
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