Na última semana, o Ministério da Previdência Social divulgou que a ansiedade ficou em terceiro lugar como a causa de afastamento do brasileiro do trabalho em 2024. O dado não é de se admirar, já que a ansiedade é o transtorno mental mais comum em todo o mundo atualmente, e o Brasil possui a população com maior taxa de transtornos de ansiedade. O país lidera o ranking com 9,3% da população com o quadro, seguido do Paraguai (7,6%) e da Noruega (7,4%), segundo dados da Organização Mundial da Saúde.
A ansiedade é uma reação natural e desejável, pois prepara o organismo para se defender de ameaças. É uma resposta involuntária e inofensiva (ao contrário do que a grande maioria das pessoas ansiosas acredita). Coração acelerado, respiração ofegante, músculos retesados e sudorese. A sensação é desagradável, mas o objetivo dessas reações é fornecer energia suficiente para fugir ou lutar com o inimigo. Não há grandes prejuízos fisiológicos depois do problema ser resolvido e o corpo retornar ao equilíbrio.
Porém, quando um organismo fica em alerta permanente e hiperestimulado devido à sobrecarga de informações e demandas no dia a dia, ele pode enfrentar sérios prejuízos, levando a transtornos de ansiedade e estresse. Poderíamos levantar algumas causas para a ansiedade roubar a paz de tantos brasileiros. Dentre eles, a violência, que causa sensação de insegurança e alerta frequentes, pela suspeita de ser vítima de um crime a qualquer momento. No entanto, há outro fator importante que poderia ser central na epidemia dos transtornos de ansiedade que assolam hoje todas as faixas etárias e classes sociais: a conectividade sem limite.
As redes sociais e o smartphone possibilitaram a resolução de inúmeros problemas, aumentaram a produtividade e reduziram custos para as empresas por meio do home office, mas também destruíram a possibilidade de privacidade e limites entre o ambiente e o horário do trabalho e a vida pessoal, mesmo entre os funcionários que permanecem trabalhando no prédio da empresa. Alerta permanente e hiperestimulação é o que não falta quando você está conectado digitalmente.
A esperança está em reconhecer o problema do uso abusivo das redes sociais, desenvolver estratégias para melhorar a disciplina, estabelecendo rotinas saudáveis de exercícios, sono, alimentação e lazer fora das telas, e limitar o tempo da conectividade ao momento adequado. É difícil conseguir isso? Sim, entretanto é mais difícil viver escravo da ansiedade. A ajuda de amigos pode ser fundamental para vencer a procrastinação ou resistência nesta mudança, uma vez que a caminhada e a academia ficam mais interessantes com boa companhia. A psicoterapia pode ser o único caminho para algumas pessoas que já não conseguem exercer o autocontrole sozinhas, sendo que o tratamento comportamental e cognitivo comportamental traz resultados excelentes para quadros de ansiedade.
Maria Estela Martins Silva é doutora em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo (USP), mestre em Análise do Comportamento pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e coordenadora do curso de Psicologia da UniCesumar em Maringá (PR).
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LUAN ARRUDA MANZOTTI
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