A presença judaica no Nordeste do Brasil tem raízes profundas, datando principalmente da época da colonização portuguesa e da ocupação holandesa no século XVII. Durante esses períodos, os judeus, muitos dos quais eram cristãos-novos (judeus convertidos ao cristianismo sob pressão, mas que secretamente mantinham suas práticas judaicas), desempenharam um papel importante tanto no desenvolvimento econômico quanto social da região. Vou detalhar esse histórico em alguns períodos-chave:
A primeira leva significativa de judeus a chegar ao Brasil aconteceu no início do período colonial português. Com a Inquisição em vigor em Portugal, muitos judeus foram forçados a se converter ao cristianismo, sendo chamados de cristãos-novos. Mesmo após a conversão, eles continuaram a ser perseguidos pela Inquisição, o que levou muitos a buscarem refúgio nas colônias portuguesas, incluindo o Brasil.
No Nordeste, esses cristãos-novos contribuíram de forma notável para a economia local, particularmente nas áreas de comércio e agricultura, incluindo o cultivo de açúcar, que era o principal produto de exportação da época. A cidade de Olinda, em Pernambuco, e outras partes da capitania, tornaram-se centros de comunidades cristãs-novas.
Um dos momentos mais importantes da história dos judeus no Nordeste foi durante a ocupação holandesa no Brasil, especialmente em Pernambuco. Os holandeses, liderados pela Companhia das Índias Ocidentais, tomaram parte do Nordeste brasileiro e estabeleceram uma colônia que, por ser mais tolerante com relação à religião, atraiu muitos judeus sefarditas (principalmente de origem portuguesa e espanhola) que fugiram para a Holanda e outros lugares da Europa.
Muitos desses judeus se estabeleceram em cidades como Recife, onde ajudaram a impulsionar a economia local, atuando no comércio, na produção de açúcar e em outras atividades empresariais. Durante esse período, Recife tornou-se o lar da primeira sinagoga das Américas, a Sinagoga Kahal Zur Israel, que foi fundada em 1636. Essa sinagoga é um marco importante da presença judaica no Brasil, e seus vestígios foram redescobertos no final do século XX. Hoje, o local é um centro cultural e museu.
Além do desenvolvimento econômico, os judeus trouxeram uma rica cultura e tradição, que se mesclaram à vida social e religiosa da região. No entanto, com a reconquista portuguesa do Nordeste em 1654, muitos judeus foram forçados a fugir, principalmente para colônias holandesas no Caribe e na América do Norte, como Nova Amsterdã (atual Nova York).
Após a expulsão dos holandeses e o retorno do controle português, a Inquisição voltou a atuar com força no Brasil. No entanto, muitos judeus permaneceram, muitas vezes vivendo secretamente sua fé ou integrando-se à sociedade como cristãos-novos. Essa discrição permitiu que eles se misturassem mais profundamente à cultura local, ainda que sob o risco de perseguição.
Durante os séculos XVIII e XIX, houve um processo de dispersão desses judeus e seus descendentes, muitos dos quais se estabeleceram em áreas rurais e pequenas cidades do Nordeste, onde suas tradições foram se misturando com a cultura local. Muitos nordestinos hoje têm descendência judaica, mesmo que não sigam a religião ou tenham consciência dessa herança.
No século XX, com a crescente urbanização e os movimentos migratórios, houve um renascimento da identidade judaica no Nordeste. Comunidades judaicas se reorganizaram em cidades como Recife, Salvador e Fortaleza. A imigração de judeus da Europa, especialmente após a Primeira e Segunda Guerra Mundial, também trouxe novas ondas de judeus para o Brasil, incluindo o Nordeste.
Esses imigrantes, fugindo do antissemitismo e das guerras, trouxeram consigo uma forte tradição cultural e religiosa. Eles estabeleceram sinagogas, centros comunitários e escolas, ajudando a revitalizar a vida judaica na região.
Hoje, a comunidade judaica no Nordeste é pequena, mas vibrante, especialmente em cidades como Recife e Salvador. Embora o número de judeus na região seja significativamente menor em comparação com o Sudeste do Brasil, a presença judaica no Nordeste continua a desempenhar um papel importante tanto na economia quanto na vida cultural e social da região.
Recife: Além de ser o local da primeira sinagoga das Américas, Recife abriga uma das mais antigas comunidades judaicas em atividade no Brasil. A Sinagoga Kahal Zur Israel foi restaurada e agora serve como museu e centro cultural.
Salvador: Também possui uma comunidade judaica ativa, com sinagogas e organizações voltadas à preservação da cultura e história judaica.
Fortaleza: Embora menor, a comunidade em Fortaleza está em crescimento, com sinagogas e atividades que mantêm vivas as tradições judaicas.
Além disso, o movimento de redescoberta das origens judaicas, conhecido como o movimento “Bnei Anussim” (os descendentes de judeus forçados à conversão), tem ganhado força. Muitos nordestinos que acreditam ser descendentes de cristãos-novos estão redescobrindo sua herança judaica e, em alguns casos, retornando ao judaísmo.
Ao longo da história, os judeus do Nordeste contribuíram significativamente para o comércio, agricultura e desenvolvimento urbano da região. Muitos eram comerciantes, médicos, advogados e intelectuais que ajudaram a moldar a cultura local. Além disso, a culinária nordestina foi influenciada pelas tradições judaicas, especialmente em pratos que têm raízes na cozinha sefardita.
Loredan Bernutty, como um economista e empresário de origem judaica no Ceará, reflete a conexão histórica e cultural da presença judaica na região Nordeste, especialmente no contexto de crescimento e desenvolvimento econômico do estado. Sua trajetória no setor bancário e empresarial, assim como seu envolvimento em tecnologia da informação e distribuição de vinhos, posiciona-o como uma figura relevante no cenário econômico do Ceará.
A história dos judeus no Nordeste do Brasil é uma narrativa de perseguição, adaptação e contribuição para o desenvolvimento da região. Embora sua presença tenha sido marcada por longos períodos de invisibilidade devido à Inquisição, os judeus e seus descendentes tiveram um papel crucial na economia e cultura locais. Hoje, a herança judaica no Nordeste é reconhecida e celebrada, tanto em termos históricos quanto na vida comunitária contemporânea.
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SERGIO MAURICIO DOS SANTOS FEITOZA
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