O dia a dia de Lorenzo, um menino de 8 anos da cidade de Santa Rosa (RS), não é muito diferente do das crianças de sua faixa etária. Ele brinca, vai à escola regular e até participa de corrida de rua com a família. Mas ele está numa jornada para aprender braile porque ele não enxerga. Nascido prematuramente, a retina dos seus olhos não se formou como deveria. Esforçado, ele já está no 3.º ano e graças o empenho de sua mãe, Ana Paula Falcão Nejelski, conseguiu aprender o alfabeto usando os pontos do corpo como referências e há cerca de um mês é aluno do projeto Enxergando o Futuro, que ensina braile a distância e de graça.
O aprendizado do braile é fundamental para o desenvolvimento de crianças com deficiência visual, pois oferece a elas uma via de alfabetização completa e autônoma, o que permite que tenham acesso ao conhecimento de forma independente, essencial para seu progresso educacional e integração social. Estudos apontam que crianças que aprendem braile desde cedo tendem a ter melhores desempenhos acadêmicos e maior chance de sucesso profissional no futuro, em comparação àquelas que dependem exclusivamente de tecnologias assistivas de áudio.
Ana Paula, que atualmente estuda educação especial, conta que quando soube da deficiência do filho começou a buscar alternativas para ele ter uma vida normal, com autonomia. “Moramos numa cidade pequena, sem muitos recursos e muito menos professor de braile. Mas eu sempre busquei maneiras para ele estudar e ir ganhando orientação e mobilidade. Desde cedo, o matriculei em uma escola municipal regular. Como ele foi o primeiro aluno com deficiência visual da escola, não estavam preparados para alfabetizá-lo. Mas veio uma professora da cidade vizinha com materiais pedagógicos específicos para instruir os docentes da escola. Porém, mesmo com AE, que é o atendimento especializado, no contraturno das aulas, não avançava muito porque é frequente a troca de professores. Eu, que já estava buscando meios de ajudar na alfabetização, fui para Porto Alegre e fiz um curso rápido de braile e também de orientação e mobilidade para ensinar o Lorenzo em casa”, relata Ana Paula.
Ela, que sempre teve no horizonte que o braile era o superpoder que seu filho precisa, enfrentou dificuldades neste processo. “A questão da pedagogia, de como ensinar braile para uma criança não é fácil. Mas tive uma boa professora, que ensinou o alfabeto usando pontos do corpo, de maneira lúdica. Repassei isso ao Lorenzo e ele aprendeu brincando. E agora a gente está junto fazendo o curso de braile do Enxergando o Futuro. Eu vejo as instruções na plataforma e passo as orientações ao Lorenzo e ele faz”, explica.
O detalhe: ela descobriu o Enxergando o Futuro ao ler uma reportagem de um pai, do Nordeste, que também fez o curso para dar aula para o seu filho com deficiência visual. Orgulhosa, Ana Paula conta que seu filho é um bom aluno, que não esquece de fazer as lições. “Uma vez, ele foi o único da sala que fez a lição. Recentemente, o único que soube responder uma pergunta da professora, de quem é o prefeito de Santa Rosa”, frisa.
Mas a família oferece ao menino atividades variadas. “Eu e meu marido buscamos estimulá-lo de todas as formas. Desde levá-lo para praticar esporte, o que também ajuda na orientação e mobilidade, a exposições e tudo mais que tiver jeito dele tocar, de aprender com o tato. Recentemente, o levamos a uma exposição sobre o corpo humano com peças que podiam ser tocadas”, relata. Assim, com escola regular, curso de braile do Enxergando o Futuro, atendimento especializado e muito estímulo, a mãe e o pai, Rafael Engleitner Nejelski, que é editor de imagens, esperam que Lorenzo torne-se um adulto autônomo, com uma vida normal.
Enxergando o Futuro
O projeto social Enxergando o Futuro, criado em Duartina (SP) pela empresária Daniela Reis Frontera, ensina braile de graça e a distância por uma plataforma online e ajuda de monitores. Atualmente, atende alunos do Brasil e também brasileiros que moram em Portugal, África e Inglaterra. No início deste mês, mais 12 alunos se formaram e há várias turmas do curso em andamento. Para quem precisa, a boa notícia é que as inscrições para uma nova turma estão abertas.
Aos 23 anos, Daniela foi diagnosticada com retinose pigmentar. Com dificuldade em encontrar um profissional ou uma instituição para aprender braile, ela criou o projeto para o braile estar ao alcance de todas as pessoas com deficiência visual ou baixa visão, gratuitamente. Atualmente, Daniela tem 10% da visão e 50 anos e é, também, para-atleta, empresária e palestrante. As aulas do projeto começaram em novembro de 2019, na cidade de Duartina, com 10 alunos. Durante a pandemia, o ensino migrou para uma plataforma on-line, o que gerou muita procura.
Serviço
A inscrição para o curso de braile do Enxergando o Futuro pode ser feita pelo WhatsApp (14) 99740-8217.
Para saber mais sobre o projeto, visite https://enxergandoofuturo.com.br/
https://www.youtube.com/enxergandoofuturo
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IEDA APARECIDA RODRIGUES
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