O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, é uma oportunidade de refletir sobre a história, a cultura e a resistência da população negra no Brasil. Declarado feriado nacional em dezembro de 2023, tornou-se mais que uma data comemorativa: é um marco da luta por justiça e igualdade. Com o objetivo de promover debates sobre os impactos do racismo estrutural, a educação antirracista se destaca como uma ferramenta para transformar a sociedade, preparando as novas gerações para um futuro mais justo.
Em um país ainda marcado pelo abismo racial e de renda, entender e desenvolver uma educação antirracista é fundamental para que justiça e sociedade caminhem juntas. Segundo levantamento do Todos Pela Educação, enquanto 74% dos jovens brancos completam o ensino médio até os 19 anos, apenas 53,9% dos negros alcançam a mesma meta. Essa disparidade reflete a desigualdade racial no acesso à educação e à formação de qualidade.
A Associação Nacional de Educação Católica (ANEC), atenta à necessidade de uma transformação estrutural no sistema educacional, vem promovendo o debate sobre a importância de um currículo antirracista. Recentemente, a organização realizou uma programação online com o tema “Currículo Antirracista e Educação Católica”, onde especialistas discutiram a necessidade de integrar a luta contra o racismo às práticas pedagógicas das escolas católicas.
Durante o evento online, a Irmã Carolina Mureb, diretora 2ª tesoureira da ANEC, destacou a importância de alinhar a proposta pedagógica à visão do Papa Francisco, que defende uma “nova aliança em prol das gerações mais jovens”, destacada no Pacto Educativo Global. “Para que essa educação seja, de fato, transformadora […] em vista daquilo que a nossa sociedade precisa, não bastam esforços isolados, é preciso uma aliança de diversas instituições e diversos atores para que essa educação possa acontecer”, comenta.
Formação integral, cidadania e a educação antirracista
A proposta da ANEC é promover uma formação integral do estudante, indo além do currículo tradicional para construir cidadãos conscientes e comprometidos com os valores de igualdade e respeito.
Para a professora Rosemary Francisca Silva, a política antirracista deve ser um “eixo fundamental para a política de oportunidades educacionais”. “Ao olharmos para a história do Brasil, é impossível ignorar as profundas cicatrizes deixadas ao longo do período da escravidão e pela persistência do racismo estrutural”, afirma.
A professora Janine Rodrigues, diretora do projeto Piraporiando, complementou a discussão, afirmando que, para se alcançar instituições verdadeiramente antirracistas, é essencial que as pessoas também sejam antirracistas. “Tornar este processo mais próximo do indivíduo tornaria as iniciativas mais simples e menos burocráticas”, afirmou. Janine também enfatizou a necessidade de que as escolas se posicionem de maneira clara contra a intolerância, seja ela racial ou religiosa.
Além de promover ações de formação, a ANEC reforça o seu compromisso com a justiça social por meio da publicação de uma carta-manifesto a favor da educação antirracista. O documento defende que a formação educacional precisa não apenas combater o racismo, mas também promover o pertencimento e a valorização de todos os estudantes, independentemente de sua raça ou origem social.
Segundo a carta, a ANEC acredita que é preciso trabalhar para garantir uma educação que “responda à realidade na qual estamos inseridos atualmente”, envolvendo diversos atores sociais em um novo arranjo de colaboração e interdependência.
Com base em documentos, como o relatório da UNESCO “Reimaginar nosso futuro juntos” e a proposta do Pacto Educativo Global, a ANEC reforça a necessidade de construir um novo contrato social, que considere a fraternidade universal e o respeito ao próximo como pilares para uma educação verdadeiramente inclusiva. De maneira que todos os estudantes tenham as mesmas oportunidades de crescer, aprender e contribuir para um futuro melhor.
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GIOVANA PIGNATI
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